O Dilema das Ciclovias
- Luciana Morgado
- 16 de set. de 2014
- 3 min de leitura
"Não se faz uma ciclovia a partir da demanda gerada por ciclistas, mas sim para convidar as pessoas a optarem por outros meios de transporte, que não o carro."
É muito bonito, diria até que muito chic, viajar para a Europa e ver as pessoas indo e vindo de bicicleta pelas ruas da cidade. Ir à Paris, por exemplo, e dar uma volta pedalando é motivo de muita felicidade... mas ao chegar em Cumbica, tudo isso fica para trás, e entram em cena novamente os super carros SUVs que transbordam pelas ruas e estacionamentos do bairro... ok, as ruas e calçadas de São Paulo não chegam aos pés das ruas de Paris, mas ver o projeto de ciclofaixas ganhar vida já é um começo, não?!
O Tatuapé ganhou o primeiro km de ciclovias, dos quase 10km planejados para este ano. O objetivo final é ligar pontos como o Shopping Anália Franco, o metrô Carrão, o parque da Mooca, a Universidade Cruzeiro do Sul e o Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador (Ceret).
Talvez você seja contra, talvez ache que as ciclovias só pioram o trânsito... talvez você fique falando mal do Haddad toda vez que pega um pouco de congestionamento ali na saída do Anália. Mas acho que é preciso respirar fundo e entender que este é sim um grande passo...
Enquanto a Europa planeja se integrar com mais de 70 mil km de ciclovia e outras cidades almejam se ver livre dos carros nos próximo anos, São Paulo começa a caminhar no mesmo rumo: a prefeitura deseja construir, nos próximos dois anos, 400 quilômetros de ciclovias.
Na região do Tatuapé, estão em andamento mais 3,6 quilômetros de ciclovias e estão sendo projetados mais 6,1km. O trecho inaugurado nesta segunda será expandido em 2km pela avenida Monte Magno até a avenida Renata. Já está em andamento a conexão com o metrô Carrão, em 1,6km da rua Apucarana. Este trecho terá interligação com a ciclovia Caminho Verde, que já existe ao longo da Radial Leste. A interligação de 4,3km com o parque da Mooca pelas ruas Taquari e Siqueira Bueno está em fase de projeto.
Vale a pena ler sobre o a história das ciclovias em Copenhaguen, escrito por Cauê Seginemartin Ameni e Manuela Beloni para a Carta Capital em Agosto:
O caso de Copenhagen é um caso emblemático para ilustrar este processo. A partir da década de 1950, com a popularização do automóvel, a cidade passou a ter grandes congestionamentos. A intensa vida do centro da cidade, presente desde que Copenhague surgiu, no século 11, começava a dar lugar ao trânsito e lúgubres estacionamentos. Foi então que o jovem arquiteto Jan Gehl, recém-contratado pela prefeitura, resolveu arriscar uma solução: fechar as ruas para os carros. Os comerciantes e moradores de Copenhague não aceitaram a novidade. As manchetes dos jornais expressavam a revolta: “Nós não somos italianos”, dizia uma manchete, enquanto outra explicava, “Usar espaços públicos é contrário à mentalidade escandinava”.
Mas depois de alguns anos Gehl ganhou a disputa e o calçadão de pedestre, chamado de Strøget, logo tornou-se a maior atração turística da cidade. O comércio da região acabou lucrando mais, porque mais gente passou a caminhar em frente suas vitrines. E o arquiteto ganhou mais espaço na prefeitura e provou que, quanto mais rua era construída, mais trânsito aparecia. E que quanto mais ciclovia, mais gente pedalava. No todo, foram necessários 20 anos para que as pessoas trocassem o carro pela bicicleta. Hoje, Copenhague é a cidade europeia com menor congestionamento. Registra, em paralelo, o maior índice de descolamento feito com bicicleta (36%), embora o clima seja rigoroso.
Com o sucesso, Jan Gehl abriu uma consultoria cuja o lema é “primeiro vem a vida; depois, os espaços; depois, os prédios”. E passou a ser contratado por varias cidades como Londres, Nova York, Sidney, Melbourne, Barcelona, entre outras, não só para “copenhaguiizar” os problemas de trânsito, mas para valorizar e incentivar a permanência e a utilização do espaço público pelas pessoas e não pelos carros.
A questão do trânsito melhorou nestas cidades, assim como a vida nos espaços públicos. Resta saber agora, se os cidadãos de São Paulo estão prontos para seguir as pedaladas dadas por essas metrópoles, ou continuarão estagnados no trânsito.
E aí?! Pronto para começar a mudança?!
Um beijo,
Lu

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