Educação Holística, mas o que é isso?!
- Luciana Morgado
- 24 de mai. de 2016
- 6 min de leitura
Esses dias uma amiga compartilhou uma matéria de uma escola aqui da região, que trabalha com educação holística, e muitas mães vieram me perguntar o que eu acho desse modelo inovador de escola. Aliás, essa é uma conversa que tenho sempre, pois muitas mães sentem que talvez os filhos fossem gostar mais desse tipo de escola, mas ao mesmo tempo, têm medo, porque ainda existe uma cultura muito grande de que a melhor escola é aquela que melhor prepara seu filho para o futuro, seja ele o primeiro ano do fundamental ou o vestibular, lá na frente. Então, é só isso que importa, o futuro?! E o presente? E o que essas crianças vivem diariamente na escola?
Então, decidi escrever esse post, para que você possa ao menos se permitir questionar. Senta aí, que lá vem textão rss :)
HISTÓRIA
Vivemos em uma sociedade que mantém um sistema educacional prussiano, criado no século XIII, com grande influência do modelo espartano, onde a escola era uma instituição militar, separada por classes e que tinha a conduta modelada por fortes castigos. Após a Revolução Francesa e a onda de despotismo influenciada pelo Iluminismo, o novo modelo escolar prussiano se desenvolveu no cenário industrial, com base no autoritarismo, na disciplina e na obediência, servindo de referência para outros países, como Russia, França, Espanha e outros da Europa e, mais tarde, da América. A escola era a resposta ideal para as necessidades da indústria, já que mais adultos estariam trabalhando, enquanto os filhos estavam na escola, e esses, no futuro, seriam melhores trabalhadores, pois saberiam ler e já teriam mais instruções que seus pais. Por isso, o modelo foi patrocinado por diversos empresários da época, como Henry Ford ou John Rockfeller.


Salas de aula, começo do século XIX. Bem parecidas com as que temos hoje, não?
A educação surge então como “ferramenta para formar trabalhadores úteis para o sistema, para que a cultura permaneça intacta, e a estrutura atual da sociedade seja conservada.“ conforme palavras de Ginés Del Castillo, fundador da Escuela de la Nueva Cultura La Cecilia, na Argentina.
Bom, acontece que a principal falha no modelo escolar tradicional é que ele não leva em conta a natureza da aprendizagem, a liberdade de escolha da criança como indivíduo, nem tampouco a importância da empatia na relação humana. “Mas na escola devemos aprender matemática, ciências e português, o resto se aprende em casa.“ Será?!
“A escola deve ser um espaço de crescimento pessoal e não um local de adestramento para a universidade e o mercado de trabalho.“ Emilio Urruty, da Escuela Experimental la Bahia, na Argentina.
EDUCAÇÃO HOLÍSTICA
A escola deveria ser um lugar incrível de descobertas, onde as crianças poderiam contar com adultos experientes e capacitados, os professores, que estariam ali, disponíveis para oferecerem informações que as ajudassem a enxergar física, matemática e química nas experiências e reflexões do dia a dia. Professores que as estimulassem ao questionamento contínuo das mais diversas teorias, fazendo com que encontrassem suas próprias respostas e assim, teriam uma visão mais ampla, porém particular, do mundo, e consequentemente da vida.
Tudo isso tem muito a ver com o que chamamos hoje de educação holística, que, segundo Ron Miller, é baseada na premissa de que cada pessoa encontra identidade, significado e propósito na vida através de conexões com a comunidade, com o mundo natural, e com seus valores espirituais, como a compaixão e a paz. A educação holística tem como objetivo valorizar a vida como um todo e despertar o amor pela aprendizagem. Existe um Relatório da Comissão Internacional de Educação, da UNESCO, com quatro os pilares básicos da Educação para o século XXI: Aprender a fazer, aprender a conhecer, aprender a ser e aprender a viver juntos, e a educação holística trabalha cada um desses pilares baseada em aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais.
No Brasil, existem algumas filosofias de educação holística que são mais aplicadas, como a Waldorf ou a Montessori.
WALDORF
A escola Walford foi criada por Rudolf Steiner, no pós guerra alemão, e hoje é um dos principais movimentos de educação alternativa no mundo. A sua filosofia se concentra no coração, nas mãos e na cabeça, com o objetivo de que o conhecimento aconteça através de experimentações. O principal foco são os relacionamentos, o desenvolvimento social e a empatia. Na escola primária, usa a expressão artística para compreender o mundo e, em graus mais elevados, a ênfase educacional desloca-se para o desenvolvimento de habilidades para o pensamento crítico.



MONTESSORI
Maria Montessori acreditava na capacidade de auto aprendizagem das crianças, principalmente quando estão em um ambiente onde possam se movimentar livremente. Nessa abordagem, o professor é um facilitador, e não uma figura central, por isso na sala de aula Montessori, as crianças são livres para escolher seus próprios caminhos, de acordo com os seus interesses. A ênfase é colocada no trabalho em equipe, assim, as crianças aprendem enquanto se envolvem ativamente em todas as atividades.


Existem outras filosofias de educação holística, como as de Clifford Mayes e Charllote Mason, assim como algumas teorias também se tornaram base para a revolução da educação, como as de Piaget e as de Paulo Freire, no Brasil.
TATUAPÉ
Aqui em São Paulo temos algumas opções de educação alternativa, e na zona leste apenas uma que realmente aplica a educação holística no dia a dia, a Wish, que nasceu para ser uma opção de educação infantil bilíngue na região, mas que hoje vai muito além do inglês. A Andressa, diretora e fundadora da escola, resolveu mudar todo direcionamento da Wish depois de conhecer pessoalmente escolas que trabalham com educação holística em países como Espanha ou Reino Unido. Fruto desse trabalho nos últimos anos foi o reconhecimento pelo MEC como instituição educacional inovadora, entre outras 177 escolas no país todo.
Sim, a Wish é a escola inovadora da região e a Andressa é minha amiga, pessoa que eu admiro e pela qual eu tenho um enorme carinho, assim, de graça, apenas porque temos muitas coisas em comum, mas esse post não tem nada a ver com isso. O objetivo é deixar aqui, registrado, um pouco sobre o que significa ser uma escola com educação holística, para que as pessoas entendam que sim, as crianças aprendem português, inglês, matemática e ciências, mas não do modo tradicional, copiando matéria da lousa. A escola que pratica educação holística tem objetivos que vão além disso. Eu poderia falar de outras escolas, mas nenhuma fica aqui na zona leste, então a Wish serve, e muito bem, de modelo. Além do mais, esse post vai me ajudar a responder as perguntas de muuuitas amigas minhas! :)
Hoje a Wish é uma escola aberta, onde os pais também participam do ambiente escolar com a criança ou em encontros abertos para discussão de temas relacionados a educação e ao desenvolvimento. É multietária, onde crianças de diferentes idades trabalham juntas em projetos diversos, e assim, aprendem umas com as outras. A Wish também trocou o sistema de provas pelo de avaliações individuais, que são contínuas, feitas pelos professores e registradas em uma plataforma que acompanha os alunos e apresenta as diferentes expectativas de aprendizagem a serem atingidas. Seu maior objetivo é o de ser um ambiente onde as crianças sejam estimuladas a fazerem suas próprias descobertas, e assim se desenvolvam por completo, que é a essência da educação holística.





Pergunta que escuto sempre: “Mas e se meu filho só brincar e não aprender nada.“ ou “Mas e se depois ele não se adaptar em uma outra escola mais tradicional?“
Primeiro, não existe a possibilidade do seu filho “aprender nada“, uma criança está sempre em processo de aprendizado! E sobre se adaptar, acho que faz parte do processo. Claro que uma criança que sai de uma escola “sem muros“ e entra em outra onde precisa sentar em filas e responder pelo número de chamada, vai passar por uma fase de adaptação, a questão é refletir sobre a escolha da melhor escola, que deve ser feita com base nas características e necessidades da criança, e não baseada em critérios como melhor índice de aprovação no vestibular ou coisa do tipo.
MORAL DA HISTÓRIA
Segundo algumas pesquisas, 98% das crianças aos cinco anos podem ser consideradas gênios, porque combinam altos níveis de curiosidade, criatividade e pensamento divergente. Aos 15 anos, depois de experimentar a escola, só 10% mantém esses níveis continuam geniais, palavra que o dicionário define também como alegres e prazenteiros.
Moral da história: questione as escolhas que você faz para os seus filhos, principalmente no que diz respeito a individualidade, a criatividade e a capacidade da criança de querer explorar o mundo. Questione sempre e esteja ao lado dos seus filhos antes de querer suprir qualquer necessidade imposta pela sociedade. Talvez essa nova geração precise de uma nova escola, e talvez esse seja o caminho da transformação que tanto queremos, mas isso depende de nós, que somos fruto de anos e mais anos em um sistema escolar tão ultrapassado. Vamos refletir sobre esse assunto?
Um grande beijo,
Lu
www.luliluli.com
Muito além da Maternidade

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